quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

abaixo de zero

é possível sobreviver em formato de caveira
respirar o vento gélido que sopra nos ossos da cela interior
o coração atravessado de delírio
nada serve já nem adianta
o rosto os olhos tudo lonjura
o corpo afastado da idade
a solidão essa água mole em pedra dura
essa ilha onde tudo machuca o peito
tudo se torna tã-tã de guerra
tudo onda leve que cresce em tsunami
a vida manifesta apenas num bater acelerado
a alma abaixo de zero
o com-tacto, o sem tacto, lábio nem mão
o hálito frio da loucura sussurando dentro
o cânone fatal

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

a casa dos adeuses

tentar a calada dos olhos
a luz pela boca
era muito mais

do que a cegueira
podia evitar

quem pode ver além da sua própria floresta?

quem pode ultrapassar com pés de barro
a fronteira do trovão?

quem sabe onde ficam os sonhos
depois do deserto?

e sobretudo: quem mandou alguém sonhar?

a sede nunca pariu bons conselhos
a fome não percebe de carinho
é melhor pegar nas malas
e voltar para a casa dos adeuses
onde não faz tanto frio
e as bocas nunca erram o alvo