há palavras que ganham para sempre uma sonoridade velha
há palavras que ganham rugas assim de repente e sem anúncio
(não há razão que justifique machucar uma palavra)
são palavras que viveram vidas anónimas até ao dia d
em que passaram a fazer parte do nosso dicionário pessoal
quem já teve dias d
compreende porque é que às vezes
é melhor a iliteracia
que alguns cantos da memória
sabe que o dia d só morre de morte temporária
ressuscitando cada vez que a palavra velha é pronunciada
por um acaso, numa escada, na rua, no autocarro
para de novo tornar-se palavra-passe
e percorrer as nossas vísceras
até olhamos para os lados
pelas dúvidas
porque assim como não podemos
desaprender as letras
ou as constelações
também depois dessas palavras
o céu nunca mais é o caos
e os caminhos nunca mais são inocentes
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