quinta-feira, 5 de novembro de 2009

há palavras

há palavras que ganham para sempre uma sonoridade velha

há palavras que ganham rugas assim de repente e sem anúncio

(não há razão que justifique machucar uma palavra)

são palavras que viveram vidas anónimas até ao dia d

em que passaram a fazer parte do nosso dicionário pessoal


quem já teve dias d

compreende porque é que às vezes

é melhor a iliteracia

que alguns cantos da memória

sabe que o dia d só morre de morte temporária

ressuscitando cada vez que a palavra velha é pronunciada

por um acaso, numa escada, na rua, no autocarro

para de novo tornar-se palavra-passe

e percorrer as nossas vísceras

até olhamos para os lados

pelas dúvidas

porque assim como não podemos

desaprender as letras

ou as constelações

também depois dessas palavras

o céu nunca mais é o caos

e os caminhos nunca mais são inocentes

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